Monday, January 02, 2006

Mar Adentro

Realizado por Alejandro Amenábar
Espanha, 2004

MAR ADENTRO é um filme belo, inteligente, arriscado e narrativamente muito bem construído. Confirma o talento de Alejandro Amenábar, que pela primeira vez faz um filme sobre seres humanos verdadeiros e sobre um tema social de enorme importância: a eutanásia. Amenábar recupera o caso de Ramón Sampedro, marinheiro que sofreu um acidente aos 25 anos e ficou condenado a viver imóvel numa cama (“Sou apenas uma cabeça agarrada a um corpo morto”), dependendo da generosidade e atenção dos seus familiares. Ramón quis acabar com esse suplício (“Para mim, esses metros necessários para chegar até a ti e poder tocar-te são uma viagem impossível, uma quimera, um sonho! Por isso quero morrer”).

Lutando por uma morte digna, luta nos tribunais, publica um livro que defende a eutanásia, aparece na televisão, mas só com a ajuda de uns amigos anónimos consegue beber a dose de cianeto necessária. Filma o momento da sua morte para que fique como testemunho da sua luta: “Considero que viver é um direito, não uma obrigação, como foi para mim, obrigado a suportar esta situação penosa durante 29 anos, quatro meses e alguns dias. Passado este tempo, fazendo um balanço do caminho recorrido não vejo os momentos de felicidade”. (...)

Amenábar e Mateo Gil teceram um filme apaixonante em que a emoção convive com o humor do próprio Ramón Sampedro. Sem fugir do fio condutor principal, souberam enriquecer a narrativa com pinceladas de uma vitalidade tão contagiosa que o espectador alterna entre o sorriso e a lágrima, desfrutando de cada minucioso detalhe. (...)

Todos os actores são admiráveis, magníficos, começando por Javier Bardem, que realiza um dos seus trabalhos mais difíceis e brilhantes, desde a composição física à pronúncia galega, continuando com Lola Dueñas, a vizinha amiga, Mabel Rivera, a cunhada (de onde saiu este assombro de actriz?), Joan Dalmau, o padre, Celso Bugallo, o irmão, Tamar Novas, o sobrinho, Bélen Rueda, a advogada, José María Pou... (...)

Belíssimo. Excepcional. Um filme imprescindível.
in El País

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