Tuesday, February 07, 2006

O Regresso do Laranja Mecânica

Um dos benefícios da ainda recente reabertura ao público do Cine-Teatro de Alcobaça foi a possibilidade de os cinéfilos alcobacenses terem voltado a poder assistir regularmente a espectáculos de cinema na sua cidade.
Além da programação comercial da sua sala principal, tem também durante este ano e pouco merecido particular atenção a pertinente programação paralela dos ciclos 7ª à 5ª, semanalmente apresentados no seu pequeno auditório.
Esses ciclos têm tido a honra e a virtude de apresentar em Alcobaça filmes menos comerciais, os chamados filmes de autor, que, contudo, têm também o seu público, que até nem é assim tão escasso…
Muitos dos filmes que têm sido apresentados nesses ciclos são bastante recentes e actuais, mas não têm também ali faltado marcantes filmes de outras épocas. E aqui recordo ter também assistido na antiga sala do nosso renovado Cine-Teatro, já há umas boas dezenas de anos, à projecção de filmes tão significativos como O Mundo a Seus Pés (de Orson Welles), Ivan, o Terrível (de Sergei Eisenstein), Easy Rider (de Dennis Hopper) ou, entre muitos outros, 2001-Odisseia no Espaço, o filme que me tornou fã de Stanley Kubrick para todo o sempre…
(...)
Laranja Mecânica é, aparentemente, um filme sobre a violência e a delinquência juvenil. Todavia, do que Kubrick nele nos fala é da violência psicológica e da delinquência do poder. Seja ele político, ou não… Este não é um filme normal. Antes pelo contrário. O chefe do gang juvenil frequenta bares onde apenas se bebe leite e a sua música preferida é a Nona Sinfonia de Beethoven.
Todavia, somos logo por si seduzidos na primeira cena: ouvindo a irresistível música electrónica que Wendy (então Walter) Carlos compôs para este genial Kubrick, enquanto o olhar simultaneamente maroto e provocador de Alex (interpretado pelo inesquecível Malcolm McDowell) nos enleia na sua rede de irónica maledicência.
Poucos segundos depois Laranja Mecânica arranca para a sua caleidoscópica espiral de brutalidade, humor negro e suprema qualidade cinematográfica, a um ritmo tão imparável que só conseguimos sossegar mesmo no fim. Quando este filme concebido a partir do não menos genial romance homónimo de Anthony Burgess chega simultaneamente ao céu e ao inferno! Seja lá isso o que for…

José Alberto Vasco

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