Monday, April 04, 2005

MARLON BRANDO [1924-2004] – O Primeiro dos Jovens Rebeldes

No mês de Abril comemora-se o nascimento de Marlon Brando, para muitos, o maior e mais influente actor americano da sua geração. Nascido a 3 de Abril de 1924, protagonizou ao longo dos seus 80 anos de vida, tanto na vida real como na tela, um papel completamente fora das malhas do círculo convencional. A sua personalidade particularmente rebelde manifestou-se bem cedo quando ainda adolescente foi expulso da escola militar.
Se atendermos à história do cinema de Holywood não será exagerado designar Brando como o primeiro exemplo de uma estirpe de rebeldia representada no celulóide. Mesmo antes de James Dean (que somente se revela com estas características em 1955, quatro anos após Brando) ele terá sido o primeiro dos jovens rebeldes do cinema americano.
Nos anos 50, época que impulsiona este estilo, Brando surge assim como o seu primeiro ícone. Como protagonista, não tem códigos de honra e actua à flor da pele. Segue somente os seus instintos. Este carácter está bem vincado em papeis como o de Stanley Kowalski de Um Eléctrico Chamado Desejo (1951), explorado até ao tutano no de Johnny de O Selvagem (1953) e manuseado refinadamente no de Terry Malloy de Há Lodo no Cais (1953). Até mesmo em Viva Zapata (1952) facilmente se descortina a raiva juvenil na sua composição da postura revolucionária do fora da lei mexicano. Brando tornara-se então a expressão do anti-social. Tornara-se o próprio símbolo da juventude porque lhe transmitia a força necessária para combater uma sociedade desajustada ao seu ritmo. Não deixa de ser irónico que o último suspiro deste elan performativo culmine que um filme dirigido por ele próprio, após a renúncia de Stanley Kubrick: Cinco Anos Depois (1961).

A sua presença no grande écran, por esta altura, impõe-se através de um conjunto de conceitos novos e simples: as suas personificações no écran são jovens, livres, inteligentes e duras. De acessos de humor arrogante, de andar deambulante entre a atitude ora agressiva ora infantil dos personagens, Brando sintetiza uma postura que se vai assumindo como muito americana. Esta postura social viria a ter outros contornos na cultura americana, como por exemplo na literatura, com o eclodir da Geração Beat cuja obra Pela Estrada Fora de Jack Kerouac (de lembrar que foi escrita em 1951 ainda que somente publicada posteriormente em 1957) já identificava esta nova ânsia juvenil americana. A figura do Tough Boy anti-herói que tão bem se encontra interpretada por Brando em O Selvagem é herdeira de um estilo já exteriorizado previamente nos westerns de Ford (com John Wayne a assumir esse papel de líder solitário) ou nos filmes de gangster como Scarface de Howard Hawks (1932). Simplesmente com ele tratou-se de artisticamente transpô-la para o plano estritamente intimista e humanista.
Descrevemos aqui no fundo o Marlon Brando que acabara de se tornar estrela, cuja energia abundante viria a contagiar toda uma geração de actores no futuro (desde de Niro a Edward Norton passando por Rourke e Dillon). Uma energia que somente viria a recuperar em toda a sua plenitude nos finais de 70 com filmes como O Último Tango em Paris, Apocalipse Now ou O Padrinho.
Marlon Brando sobre O Selvagem na sua autobiografia afirma: “Surpreendeu-me que alguém de t-shirt, jeans e blusão de cabedal, de repente, pudesse simbolizar a revolta. No filme há uma cena em que alguém pergunta ao meu personagem contra o quê eu me revoltava ao qual eu respondo «o que é que tens ai para me dar»? No entanto, nenhum de nós envolvidos no filme alguma vez imaginou que tal pudesse a vir a instigar ou encorajara a revolta juvenil na América.”
a.g.

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