Wednesday, March 02, 2005

Carandiru

Realização: Hector Babenco
Intérpretes: Luiz Carlos Vasconcelos, Milhem Cortaz, Milton Gonçalves, Ivan de Almeida, Ailton Graça, Maria Luisa Mendonça
Brasil/Argentina, 2003
“Doutor quer ouvir mais uma mentira? Aqui dentro ninguém é culpado.O senhor ainda não percebeu isso?” - Seo Chico (Milton Gonçalves)
“Na cadeia ninguém conhece a moradia da verdade.” - Lula (Dionisio Neto)
“Culpa tem remédio doutor ?” - Peixeira (Milhem Cortaz)
“Se tivesse todo mundo ia querer” - Médico (Luiz Carlos Vasconcelos)
“Aqui só existe uma coisa mais importante que a liberdade. A sobrevivência.”
História já tratada pelos Sepultura no tema "Pavilhão 9", "Carandiru", baseado no livro "Estação Carandiru" de Drauzio Varella, é o relato da experiência profunda e marcante de um médico que não podia voltar as costas à realidade.
Numa cela da Casa de Detenção de São Paulo, o popular Carandiru, dois reclusos (Lula e Peixeira) enfrentam-se num acerto de contas. O clima é tenso. Outro recluso, Nego Preto, espécie de "juíz" para desavenças internas, soluciona o caso em tempo de dar "boas-vindas" ao Médico, recém- chegado e disposto a realizar um trabalho de prevenção à SIDA na penitenciária. O Médico depara-se, no maior presídio da América Latina, com problemas gravíssimos: superlotação, instalações precárias, doenças como tuberculose, leptospirose, caquexia, além de pré-epidemia de SIDA. Os encarcerados lamentam, além da falta de assistência médica, de assistência jurídica.
O Carandiru, com seus mais de sete mil reclusos, constitui um grande desafio para o Doutor recém-chegado. Mas bastam alguns meses de convivência para que ele perceba algo que o transformará: mesmo vivendo numa situação-limite, os internos não são figuras demoníacas. No convívio com os presos que visitam o seu improvisado consultório, o Médico testemunha solidariedade, organização e, acima de tudo, grande disposição de viver.
Oncologista famoso, habituado à mais sofisticada tecnologia médica, o Doutor terá que praticar a sua medicina à moda antiga, com estetoscópio, sensibilidade e muita conversa. O trabalho começa a apresentar resultados e o Médico ganha o respeito da colectividade. Com o respeito, vêm os segredos. As consultas vão além das doenças, pois os detentos começam a narrar histórias de vida. Os encontros na enfermaria transformam-se em "janelas" para o mundo do crime.
Flash backs reconstroem estas narrativas. Zico e Deusdete, amigos inseparáveis na infância e préadolescência, conhecem destino trágico na cadeia (um, alucinado pelo consumo de crack, matará o outro).
O traficante Majestade desfila, com ginga, o seu poder pelo presídio, além de desfrutar do amor das suas duas mulheres, Dalva e Rosirene.
O velho Chico, homem sábio, cultivado na solitária, adora balões e está prestes a ganhar a liberdade e reencontrar os 18 filhos. O "juiz" Nego Preto, líder da massa carcerária, tem tantos problemas para resolver, que o Médico diagnostica seu mal: stress.
O matador Peixeira, com 39 condenações nas costas, passará por ruidosa conversão, tornando-se pastor evangélico. O surfista Ezequiel viverá, no cárcere, a sua ascensão e queda. Os amigos Antonio Carlos e Claudiomiro, assaltantes de bancos, desentender-se-ão por causa da ardilosa e perversa Dina.
O "filósofo" existencialista Sem Chance viverá um romance de contos de fadas com a divina Lady Di. O director da prisão, o Sr. Pires, pisa ovos para administrar a cadeia.
A narrativa do filme arma-se como um quebra-cabeças. Uma história encaixa-se na outra para formar um painel realista da tragédia brasileira. Com o Médico, o espectador acompanha os movimentos quotidianos dos presos, até à eclosão - em 2 de outubro de 1992 - do mais terrível abalo da história da Casa de Detenção de São Paulo (e do Brasil): o Massacre do Carandiru.

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