Wednesday, July 20, 2005

Entrevista: Lone Scherfig

Como surgiu a ideia para esta história?

Lone Scherfig – “A Festa” impressionou-me muito tal como o seu sucesso merecido. A simplicidade das regras do Dogma parece-me uma boa maneira de construir um filme ligeiro tanto no plano da rodagem como o do argumento. A história pode parecer simples: ela é como a terra que é enriquecida pelo trabalho dos actores para chegar mais longe na verdade das personagens. Para além dos seis actores, foi também o local da rodagem que deu origem ao aspecto de “pequena cidade” desta comunidade de destinos. Foi tudo filmado à volta de Filmbyen.

Cada personagem do filme perde algo ou alguém. Qual é para si o preço da vida?

Lone Scherfig – O filme comporta um aspecto dramático e um aspecto cómico. Dramático porque as dificuldades que as minhas personagens encontram dão esse tom: amar alguém e dizer-lhe é sem dúvida a verdadeira questão de todas as personagens e não é uma questão fácil. Cómico porque as personagens são seres humanos por inteiro, ou seja com uma real complexidade. É o olhar que eu tenho sobre eles que faz pender a balança para um lado ou para outro. Por exemplo a personagem de Halvfinn, o empregado fã do clube de futebol Juventus. No início, no argumento, era um personagem mais resmungão, passando o tempo a dizer as verdades às pessoas. Depois, no filme, Halvfinn é divertido e impertinente. Traz muito dinamismo ao filme. Cada um deles é dramático e cómico. Se cada personagem perde alguém ou algo, encontra outra pessoa ou outra coisa no final do filme; cada um à sua maneira. O final do filme é um happy end sobre a possibilidade de serem eles próprios, apesar de tudo.

Através do seu filme, temos uma impressão de solidão que se desprende dos lugares, dos cenários, da paisagem...

Lone Scherfig – A impressão de solidão é provocada pelo facto de termos filmado no Inverno. Parece-me uma boa tela de fundo para realçar o que me interessa: as personagens. Queria que a atenção do espectador se concentrasse nas personagens e nas suas histórias. É uma implicação do espectador muito diferente da que provoca o star system. Um filme com as regras do Dogma mergulha o espectador num universo muito quotidiano. É isso que é interessante nesta aposta: cada espectador pode identificar-se com o conjunto das personagens e não apenas com uma delas. Como queria estar próxima deles, privilegiei o rosto dos actores. Não é um filme de paisagens mas sim um documentário dos sentimentos.

As regras do Dogma não alteram por completo a possibilidade de tornar belos os actores que filma...

Lone Scherfig – Penso que as regras do Dogma permitem dar tempo ao olhar. Os actores tornam-se então muito bonitos. Gosto muito deles.

No seu périplo a Veneza, no final do filme, há uma cama que permite uma cena romântica...

Lone Scherfig – Isso fez parte das surpresas fabulosas que as regras do Dogma permitem. Tudo está lá na vida e só preciso agarrá-lo, captá-lo. Em Veneza, quando Halvfinn e Karen vão para uma ruela afastados dos olhares, estava lá realmente uma cama, ali como caída do céu e para grande felicidade do filme. Se a cama não estivesse lá, não a teria imaginado. É uma das condições do Dogma. Rodagem rápida, ligeira, o mais perto possível da realidade. Enquanto cineasta, desembaraçamo-nos de uns quantos artifícios para chegar ao essencial: confiar no real, acreditar na vida e aceitá-la.

Entrevista por Malika Aït Gherbi,

coordenadora nacional da Association Française des Cinémas d’Art et d’Essai

0 Comments:

Post a Comment

<< Home