Thursday, July 07, 2005

A Festa - o que se esconde por detrás

Sigma 1: os trigais emergem na sua máxima beleza. O imenso sol pesado põe-se. Caminha-se até à toca do lobo. O patriarca espera pelo filho pródigo no escritório das traseiras do castelo da família. O filho permanece nervoso no seu primeiro reencontro com o pai. Ele não está tranquilo. Algo se esconde por detrás. A verdade esconde-se sob sinais. Ansiedade está à flor da pele. A festa vai começa lentamente.

Sigma 2: os lençóis brancos tapam a mobília do quarto onde a irmã gémea se suicidou. Uma casa de banho como cemitério de almas suicidárias: “Ela está na casa de banho!”…”Não pode, esta…ela morreu!”…”Acho que devíamos era ir embora”.

Sigma 3: o jogo do “está morno”. Descobrir o esconderijo do anel. O jogo é uma velha brincadeira de crianças. E agora o jogo da verdade começou. E começou na banheira onde a irmã gémea morreu. E agora o recepcionista, no seu fato escuro, deita-se e aguarda na banheira. E não se trata de um jogo. É fatal e real.

Sigma 4: a água agita-se no copo de Christian. A água corre no quarto ao lado. Assistimos à descoberta da carta no candeeiro do tecto. A água corre. Água da vida. Num jogo real e fatal, nos 60.º aniversário do patriarca.

Sigma 6: o esconderijo de uma carta de suicídio. O esconderijo da verdade. Momentos antes, a Festa começara. A carta deve ser escondida de novo num tubo de comprimidos. A verdade dolorosa deve ser ela própria dopada, tornada invisível e insensível. A Festa deve continuar. Sob efeito dopante da ignorância.

Sigma 7: Christian adormece no cadeirão com uma bela e sexy rapariga à mão. Ele está exausto com o encontro com o patriarca. “Já nem te dignas a olhar para uma mulher bonita … onde estás tu, encantador Christian?” E ele sonha que corre com o pai no jardim.

Sigma 8: na realidade trata-se do patriarca com o neto, filho do seu irmão Micheal. O que é afinal sonho e realidade? Há que descobrir.

Sigma 9: a empregada de mesa deixa entornar a água no colo de Micheal. Ele merece um pequeno banho de água fria. No entanto, não sabemos o quanto ele gela por dentro.

Sigma 10: Helene, a irmã, deixa cair o copo de vinho, de forma estridente, durante o primeiro discurso de Christian. O discurso verde é uma escolha interessante. Trata-se de um discurso da verdade. A verdade fatal. Da do tipo que exclui patriarcas do castelo da família. Trata-se na verdade, de um discurso fatal.

Sigma 11: o roubo de todas as chaves dos carros. É um sinal da verdade penetrando a pele. Agora a festa é forçada a ouvir a verdade de novo e de novo. Não há escapatória possível. A Festa deve prosseguir até ao âmago da verdade.

Sigma 12: o segundo discurso. Um brinde à saúde de Helge, o patriarca violador. “Façamos um brinde ao homem que matou a minha irmã! Um assassino!”

Sigma 13: a mente distorcida do patriarca tenta esconder a verdade e diz: “Meu filho, tu tens uma alma perversa…estás apenas interessado na tua mente doentia!” A verdadeira doença é revelada. Uma herança deixada ao filho. Uma mentira que o filho se encarregará de desmascarar.

Sigma 14: a matriarca tenta descrever aos convidados o quanto criativo era Christian na infância. Como, muito novo, inventava histórias fantásticas, daquelas que ninguém poderia acreditar. E agora, repetia essa atitude. Verdadeiramente inacreditável. A verdade como ilusão. A realidade como fantasia.

Sigma 15: o terceiro discurso de Christian. “São tão corruptos que desejo que morram!”. O atormentado orador da verdade é retirado violentamente da Festa. A violência do passado permanece no tempo presente. Assim deve ser. Enquanto isso a avó ensaia um cântico sobre a paz e a calma do bosque. Um velho hino da paz dinamarquês que homenageia a natureza pela sua serenidade. Mas já não existe paz alguma. Não nesta Festa.

Sigma 16: a carta de suicídio é revelada a partir de um tubo de comprimidos. A realidade rompe por entre norcóticos e mediocridade que tenta esconder o que nunca pode ser dopado. Pela sua força, a verdade vem à superfície. Ninguém os pode proteger.

Sigma 17: Christian caído no chão. É atirado para a visão da irmã gémea morta. Ela suspira na escuridão: “Christian…Eu vou-me embora agora”. Pelo meio Christian pergunta: “Queres que vá contigo?”. O amor é mais forte. Trata-se do amor à verdade sendo mais forte que tudo o resto.

Sigma 18: o castigo é aplicado na noite sombria. A violência prolonga-se. Não tem fim.

Sigma 19: o patriarca tenta uma última redenção. Sem sucesso, é conduzido à porta. Deve abandonar o castelo sagrado da família. Não pode permanecer. Demasiada verdade violada. Deve morrer no desconhecido. É a verdade que fecha a porta por detrás dele. Pode-se agora dar início à verdadeira Festa – à mesa do pequeno-almoço.


Recensão do Filme:
Nikolas Juel
(convidado da 7.ª à 5.ª)
Aarhus, Dinamarca, Julho de 2005.

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