Monday, July 25, 2005

EM ÓRBITA do DOGMA 95: Europa – Lars von Trier

Em órbita do ciclo Dogma 95, apresenta-se o primeiro grande filme de um dos seus fundadores. Longe da génese do movimento, Europa de Lars von Trier reflecte no entanto grande parte dos fundamentos estéticos e conceptuais da obra deste autor dinamarquês. A visão experimentalista e dogmática sobre o cinema, que influenciará o próprio movimento pela mão de Trier estão aqui bem presentes.

Europa

Em 1991, um filme causou sensação pela sua qualidade plástica e conceptual. Esse filme foi sem dúvida alguma Europa de Lars von Trier. Deu a conhecer ao mundo um novo mestre do cinema que mesmo antes já tinha marcado presença significativa no contexto audiovisual com dois registos televisivos importantes: Medeia (1987) e Epidemia (1988). No entanto, estas duas produções, de amplitude mais restrita, só teriam o seu reconhecimento depois do aparecimento de Europa quando este ganhou o grande prémio do júri de Cannes.

A personagem principal de Europa (magistralmente interpretada por Jean-Marc Barr), um jovem americano nascido na Alemanha, regressa à terra natal para ajudar à reconstrução do pós-guerra, acabando por se embrenhar numa epifania simultaneamente individual (em que se conhece a si próprio) e colectiva, do estado/nação/continente à deriva. A Europa e a consciência de ser europeu são temas recorrentes em Trier: está presente logo no seu primeiro registo filmado, em Elemento do Crime (1982) onde neste thriller psicológico a Europa é tida como um só país.

Trier é um seguidor confesso de Carl T. Dryer (1889 - 1968), um dos expoentes máximos dos primórdios do cinema europeu e a grande referência clássica do cinema dinamarquês. A reverência está presente de forma evidente não só ao nível plástico (estético) mas igualmente ao nível formal e conceptual na elaboração de histórias pesadas, dando enfoque ao lado mais negro da existência humana e na construção de enredos que enaltecem o desencanto do mundo cujos finais parecem constituir nenhuma esperança. Europa, é um dos grandes exemplos dessa herança artística e cultural. Mas Trier é igualmente um cinéfilo assumido. Europa, por exemplo, faz homenagem à cinematografia surrealista de inicio do século XX de Buñuel e Rene Clair.

O filme suplanta tudo e todos através da narração (a voz pausada de Max von Sydow), de teor descritivo e ambição hipnótica, que contribui para a criação de um tom fabular cada vez mais contrastante à medida que o filme avança. A fábula encarnada no personagem principal, é o do próprio “velho continente” que se afunda – personificada no afogamento de Leopold Kessler - no momento em que é dada a destruição da sombria Alemanha nazi ergue-se uma nova ordem mundial. Nasce, nesse instante, uma nova Europa!

Thursday, July 21, 2005

O Dogma segundo Lone

Aos 42 anos, Lone Scherfig é autora de dois filmes memoráveis na esfera cinéfila (The Birthday Trip e On Our Own). Assinou também vários trabalhos para a rádio, televisão e teatro. Hoje, o seu belo ITALIANO PARA PRINCIPIANTES ganhou o Urso de Prata do último festival de Berlim.

O que é que a seduzia na realização de um filme Dogma?

Lone Scherfig – Primeiro, poder fazer o que queria. (...) Depois, a ligeireza da produção. Do primeiro dia do argumento até ao último dia de montagem, as coisas desenrolaram-se incrivelmente rápido. Não tive que sofrer o peso de uma produção “normal” onde, por vezes, ficamos vários dias a rodar uma cena de um minuto.

Lars von Trier interveio muito?

Lone Scherfig – Estudámos na mesma escola de cinema. Pertencia ao ano anterior ao meu. Produziu também uma das minhas séries de televisão. Lars comportou-se comigo como um colega. É um excelente produtor. Conhece de cor as três versões sucessivas do argumento. E pode dar-me conselhos sensatos sobre o sítio em que colocar esta ou aquela cena.

O seu filme prefere o humor ao drama...

Lone Scherfig – O que eu temo sobretudo é a pretensão. Em ITALIANO PARA PRINCIPIANTES, tentei fugir à tristeza e ao sentimentalismo, mesmo que o meu filme, de facto, seja verdadeiramente triste e sentimental. Mas se o chega a ser, é porque eu desejei que nada fosse insistente... Quando trabalho, de qualquer modo, gosto de rir. Então, crio uma atmosfera de felicidade no plateau. É como quando um médico nos dá uma injecção. Ele sabe que vai magoar-nos, então prefere pôr-nos de bom humor.

Porque este fascínio pela Itália?

Lone Scherfig – Fantasma escandinavo... Mas, enfim, tinha vontade de filmar em Veneza. E depois, sempre amei o cinema italiano: Rossellini, Fellini...


O. D. B., Première

Janeiro 2002

Wednesday, July 20, 2005

Entrevista: Lone Scherfig

Como surgiu a ideia para esta história?

Lone Scherfig – “A Festa” impressionou-me muito tal como o seu sucesso merecido. A simplicidade das regras do Dogma parece-me uma boa maneira de construir um filme ligeiro tanto no plano da rodagem como o do argumento. A história pode parecer simples: ela é como a terra que é enriquecida pelo trabalho dos actores para chegar mais longe na verdade das personagens. Para além dos seis actores, foi também o local da rodagem que deu origem ao aspecto de “pequena cidade” desta comunidade de destinos. Foi tudo filmado à volta de Filmbyen.

Cada personagem do filme perde algo ou alguém. Qual é para si o preço da vida?

Lone Scherfig – O filme comporta um aspecto dramático e um aspecto cómico. Dramático porque as dificuldades que as minhas personagens encontram dão esse tom: amar alguém e dizer-lhe é sem dúvida a verdadeira questão de todas as personagens e não é uma questão fácil. Cómico porque as personagens são seres humanos por inteiro, ou seja com uma real complexidade. É o olhar que eu tenho sobre eles que faz pender a balança para um lado ou para outro. Por exemplo a personagem de Halvfinn, o empregado fã do clube de futebol Juventus. No início, no argumento, era um personagem mais resmungão, passando o tempo a dizer as verdades às pessoas. Depois, no filme, Halvfinn é divertido e impertinente. Traz muito dinamismo ao filme. Cada um deles é dramático e cómico. Se cada personagem perde alguém ou algo, encontra outra pessoa ou outra coisa no final do filme; cada um à sua maneira. O final do filme é um happy end sobre a possibilidade de serem eles próprios, apesar de tudo.

Através do seu filme, temos uma impressão de solidão que se desprende dos lugares, dos cenários, da paisagem...

Lone Scherfig – A impressão de solidão é provocada pelo facto de termos filmado no Inverno. Parece-me uma boa tela de fundo para realçar o que me interessa: as personagens. Queria que a atenção do espectador se concentrasse nas personagens e nas suas histórias. É uma implicação do espectador muito diferente da que provoca o star system. Um filme com as regras do Dogma mergulha o espectador num universo muito quotidiano. É isso que é interessante nesta aposta: cada espectador pode identificar-se com o conjunto das personagens e não apenas com uma delas. Como queria estar próxima deles, privilegiei o rosto dos actores. Não é um filme de paisagens mas sim um documentário dos sentimentos.

As regras do Dogma não alteram por completo a possibilidade de tornar belos os actores que filma...

Lone Scherfig – Penso que as regras do Dogma permitem dar tempo ao olhar. Os actores tornam-se então muito bonitos. Gosto muito deles.

No seu périplo a Veneza, no final do filme, há uma cama que permite uma cena romântica...

Lone Scherfig – Isso fez parte das surpresas fabulosas que as regras do Dogma permitem. Tudo está lá na vida e só preciso agarrá-lo, captá-lo. Em Veneza, quando Halvfinn e Karen vão para uma ruela afastados dos olhares, estava lá realmente uma cama, ali como caída do céu e para grande felicidade do filme. Se a cama não estivesse lá, não a teria imaginado. É uma das condições do Dogma. Rodagem rápida, ligeira, o mais perto possível da realidade. Enquanto cineasta, desembaraçamo-nos de uns quantos artifícios para chegar ao essencial: confiar no real, acreditar na vida e aceitá-la.

Entrevista por Malika Aït Gherbi,

coordenadora nacional da Association Française des Cinémas d’Art et d’Essai

Tuesday, July 19, 2005

Italiano para Principiantes ou Dogme #12 Italiensk for Begyndere

Realizado por Lone Scherfig
Dinamarca, 2000 Cor – 98 min.

Andreas, um jovem padre viúvo, chega aos subúrbios de Copenhaga para substituir o pároco local.

JØrgen Mortensen é um recepcionista de hotel com problemas amorosos, que não tem relações sexuais com uma mulher há quatro anos e frequenta o curso de italiano.

Olympia é uma rapariga charmosa, apesar de muito desajeitada, que trabalha numa pastelaria e sofre diversos traumas devidos à violência verbal do pai. Sonha em inscrever-se no curso de italiano, porque está convencida que a mãe é italiana.

Olympia apaixona-se por Andreas e pouco depois a sua vida é surpreendida por um outro acontecimento. No funeral da mãe, a rapariga descobre que é irmã de Karen, uma cabeleireira (com uma mãe problemática) que se apaixona por Finn, um adepto da “Juventus”, com uma história de tentativas goradas de corte de cabelo.

Finn é empregado de mesa mas, quando é despedido, torna-se professor no curso de italiano.

Giulia é uma italiana, com uma grande fé na Virgem Maria, colega de Finn no restaurante e tem uma paixoneta por JØrgen Mortensen.

O curso de italiano vai funcionar para estas personagens frágeis e solitárias como uma espécie de catalisador que as conduzirá ao encontro do amor, vivido à típica maneira italiana.

Tuesday, July 12, 2005

Os Idiotas/Idioterne ou Dogme #2 Idioterne

Realizado por Lars Von Trier
Dinamarca, 1998 Cor - 125 min.

Um grupo de pessoas junta-se numa grande residência e dedicam-se a procurar o idiota que está dentro de cada um, entrando em "paranóia", babando-se e passando em público por verdadeiros deficientes mentais, como forma de se libertarem dos seus problemas e de chocarem as instituições burguesas. Depois de um período de estágio, chega a altura do exame, isto é, de levar a loucura para o meio "normal" do qual tiraram férias.
Todos os limites pessoais são ultrapassados, com este retrato de um cinema nu e cru. Este é o segundo filme poduzido no âmbito da plataforma Dogma 95, fundada por Lars von Trier e Thomas Vinterberg.

Monday, July 11, 2005

A cólera de Lars Von Trier

As regras do Dogma não foram respeitadas!

Foi a descoberta que fez Lars Von Trier, ao examinar cuidadosamente, depois de algumas indicações, a versão de "Os Idiotas" que, depois da sua estreia em Cannes em 1998, foi distribuído em todo o mundo. A traição veio de Peter Aalbaek, seu sócio na produtora Zentrope que, sem avisar o realizador de "Breaking The Waves" tomou a decisão de aumentar artificialmente o nível de iluminação, coisa que é formalmente proibida pelo Dogma. No "Libération", Aalbaek explica-se: "quando vi o filme, era simplesmente impossível ver fosse o que fosse, com aquela luz tão fraca. A qualidade era horrível, o filme estava impossível de ser distribuído, apesar de já estar vendido para o mundo inteiro. (...) Tenho um princípio: quando se faz um filme de cinema, é para ele ser visto. Lars não está de acordo". No início Lars Von Trier anunciou a sua intenção de retirar todas as cópias do filme em circulação para as substituir pela versão do filme controlada por si, mas acabou por se render aos argumentos de Aalbaek devido à impossibilidade prática da operação.

Thursday, July 07, 2005

A Festa - o que se esconde por detrás

Sigma 1: os trigais emergem na sua máxima beleza. O imenso sol pesado põe-se. Caminha-se até à toca do lobo. O patriarca espera pelo filho pródigo no escritório das traseiras do castelo da família. O filho permanece nervoso no seu primeiro reencontro com o pai. Ele não está tranquilo. Algo se esconde por detrás. A verdade esconde-se sob sinais. Ansiedade está à flor da pele. A festa vai começa lentamente.

Sigma 2: os lençóis brancos tapam a mobília do quarto onde a irmã gémea se suicidou. Uma casa de banho como cemitério de almas suicidárias: “Ela está na casa de banho!”…”Não pode, esta…ela morreu!”…”Acho que devíamos era ir embora”.

Sigma 3: o jogo do “está morno”. Descobrir o esconderijo do anel. O jogo é uma velha brincadeira de crianças. E agora o jogo da verdade começou. E começou na banheira onde a irmã gémea morreu. E agora o recepcionista, no seu fato escuro, deita-se e aguarda na banheira. E não se trata de um jogo. É fatal e real.

Sigma 4: a água agita-se no copo de Christian. A água corre no quarto ao lado. Assistimos à descoberta da carta no candeeiro do tecto. A água corre. Água da vida. Num jogo real e fatal, nos 60.º aniversário do patriarca.

Sigma 6: o esconderijo de uma carta de suicídio. O esconderijo da verdade. Momentos antes, a Festa começara. A carta deve ser escondida de novo num tubo de comprimidos. A verdade dolorosa deve ser ela própria dopada, tornada invisível e insensível. A Festa deve continuar. Sob efeito dopante da ignorância.

Sigma 7: Christian adormece no cadeirão com uma bela e sexy rapariga à mão. Ele está exausto com o encontro com o patriarca. “Já nem te dignas a olhar para uma mulher bonita … onde estás tu, encantador Christian?” E ele sonha que corre com o pai no jardim.

Sigma 8: na realidade trata-se do patriarca com o neto, filho do seu irmão Micheal. O que é afinal sonho e realidade? Há que descobrir.

Sigma 9: a empregada de mesa deixa entornar a água no colo de Micheal. Ele merece um pequeno banho de água fria. No entanto, não sabemos o quanto ele gela por dentro.

Sigma 10: Helene, a irmã, deixa cair o copo de vinho, de forma estridente, durante o primeiro discurso de Christian. O discurso verde é uma escolha interessante. Trata-se de um discurso da verdade. A verdade fatal. Da do tipo que exclui patriarcas do castelo da família. Trata-se na verdade, de um discurso fatal.

Sigma 11: o roubo de todas as chaves dos carros. É um sinal da verdade penetrando a pele. Agora a festa é forçada a ouvir a verdade de novo e de novo. Não há escapatória possível. A Festa deve prosseguir até ao âmago da verdade.

Sigma 12: o segundo discurso. Um brinde à saúde de Helge, o patriarca violador. “Façamos um brinde ao homem que matou a minha irmã! Um assassino!”

Sigma 13: a mente distorcida do patriarca tenta esconder a verdade e diz: “Meu filho, tu tens uma alma perversa…estás apenas interessado na tua mente doentia!” A verdadeira doença é revelada. Uma herança deixada ao filho. Uma mentira que o filho se encarregará de desmascarar.

Sigma 14: a matriarca tenta descrever aos convidados o quanto criativo era Christian na infância. Como, muito novo, inventava histórias fantásticas, daquelas que ninguém poderia acreditar. E agora, repetia essa atitude. Verdadeiramente inacreditável. A verdade como ilusão. A realidade como fantasia.

Sigma 15: o terceiro discurso de Christian. “São tão corruptos que desejo que morram!”. O atormentado orador da verdade é retirado violentamente da Festa. A violência do passado permanece no tempo presente. Assim deve ser. Enquanto isso a avó ensaia um cântico sobre a paz e a calma do bosque. Um velho hino da paz dinamarquês que homenageia a natureza pela sua serenidade. Mas já não existe paz alguma. Não nesta Festa.

Sigma 16: a carta de suicídio é revelada a partir de um tubo de comprimidos. A realidade rompe por entre norcóticos e mediocridade que tenta esconder o que nunca pode ser dopado. Pela sua força, a verdade vem à superfície. Ninguém os pode proteger.

Sigma 17: Christian caído no chão. É atirado para a visão da irmã gémea morta. Ela suspira na escuridão: “Christian…Eu vou-me embora agora”. Pelo meio Christian pergunta: “Queres que vá contigo?”. O amor é mais forte. Trata-se do amor à verdade sendo mais forte que tudo o resto.

Sigma 18: o castigo é aplicado na noite sombria. A violência prolonga-se. Não tem fim.

Sigma 19: o patriarca tenta uma última redenção. Sem sucesso, é conduzido à porta. Deve abandonar o castelo sagrado da família. Não pode permanecer. Demasiada verdade violada. Deve morrer no desconhecido. É a verdade que fecha a porta por detrás dele. Pode-se agora dar início à verdadeira Festa – à mesa do pequeno-almoço.


Recensão do Filme:
Nikolas Juel
(convidado da 7.ª à 5.ª)
Aarhus, Dinamarca, Julho de 2005.

Wednesday, July 06, 2005

A Festa/Festen ou Dogme #1 Festen

Realizado por Thomas Vinterberg
Dinamarca, 1998 Cor - 106 min.

É Verão na Dinamarca e há uma festa em honra do patriarca da família Klingenfelt. Os seus 60 anos vão ser comemorados com os amigos, parentes e, claro, com a mulher Elsa, e os três filhos, já adultos, Christian, Michael e Helene. Apesar de todos os detalhes terem sido pensados ao pormenor, a comemoração acaba por se transformar em algo muito parecido com uma festa surpresa: a tensão instala-se, os elogios dão lugar a desabafos secretos e revelações escandalosas. Todas as famílias têm os seus segredos...

Tuesday, July 05, 2005

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Julho | Ciclo "DOGMA 95"

07_07:
"A Festa" de Thomas Vinterberg

14_07:
"Os Idiotas" de Lars Von Trier

21_07:
"Italiano Para Principiantes" de Lone Scherfig

Em órbita (sessões especiais da 7.ª à 5.ª)
28_07:
"Europa" de Lars Von Trier

Monday, July 04, 2005

O que é o DOGMA 95?

O DOGMA 95 é um Manifesto criado por um conjunto de realizadores, em Copenhaga no Outono de 1995, com o objectivo de contrariar “certas tendências do cinema actual”, posicionando-se como uma “operação de salvamento” de um cinema que consideram morto. O Dogma 95 opõe-se ao conceito de autor, de cinema individual, efeitos especiais, maquilhagem e ilusões [“A tarefa ‘suprema’ dos realizadores decadentes é enganar a audiência. É disso que estão tão orgulhosos? Foi isso que ‘100 anos’ nos deram? Ilusões a partir das quais as emoções podem ser comunicadas? (...) Uma ilusão da dor e uma ilusão do amor”]. O Dogma 95 opõem-se ao cinema da ilusão pela apresentação de um incontestável conjunto de regras designadas como VOTO DE CASTIDADE. Os primeiros realizadores dinamarqueses a assinar este manifesto e assumir o voto de castidade foram Lars von Trier e Thomas Vinterberg.

O Voto de Castidade

Juro submeter-me ao seguinte conjunto de regras estabelecidas e confirmadas pelo DOGMA 95:

1. As filmagens têm de decorrer fora dos estúdios. Não se podem introduzir adereços nem cenários (se for necessário um adereço particular para a história, a localização da cena tem de ocorrer no local onde ele se possa encontrar).
2. O som nunca pode ser produzido separadamente das imagens ou vice-versa. (Não pode ser utilizada música, a não ser que ela exista no local onde decorre a cena).
3. Tem de se usar a câmara à mão. É permitido todo o movimento ou imobilidade possibilitado pela mão. (O filme não pode decorrer onde está a câmara; a filmagem tem de decorrer onde decorre o filme).
4. O filme tem de ser a cores. Não é aceitável iluminação especial. (Se houver muito pouca luz a cena deve ser cortada ou adapta-se uma única lâmpada à câmara).
5. São proibidos filtros e efeitos.
6. O filme não pode conter uma acção superficial. (Assassinatos, armas, etc. não podem acontecer.)
7. Estão proibidas as alienações temporais e geográficas. (O que significa que o filme se passa aqui e agora.)
8. Não são aceitáveis os filmes de género.
9. O formato do filme tem de ser 35mm standard.
10. O nome do realizador não pode aparecer no genérico.

Para além disto, enquanto realizador, juro abdicar do gosto pessoal! Já não sou um artista. Juro abdicar de criar uma “obra”, uma vez que penso que o instante é mais importante do que o todo. O meu objectivo supremo é obter a verdade das minhas personagens e do enquadramento da acção. Juro fazê-lo por todos os meios disponíveis e à custa de todo o bom gosto e de todas as considerações estéticas. Assim faço o meu voto de castidade.”

Fontes: Atalanta Filmes e site oficial www.dogme95.dk